Cultura. Essa palavra, provavelmente, tem sua origem no verbo latino colere, que significa cultivar o campo, trabalhar, morar. Seu futuro pretérito é culturus, significando o que se vai cultivar/trabalhar. Cultura é isso, um constante re (fazer-se).
Para a Antropologia, todo ser humano é portador de cultura. Nesse sentido, cultura é o conjunto de valores, dos conhecimentos, das técnicas e formas de fazer, pensar, sentir, agir e exprimir da humanidade, bem como de reproduzir esse arcabouço ao repassá-lo de geração para geração, através da tradição, da escrita, dos meios de comunicação, do Estado e das instituições diversas da sociedade.
O homem primitivo não tinha cultura, era arborícola – vivia em árvores. Até que surge uma necessidade que o obriga a descer das árvores, em busca de novas formas de sobrevivência. Não dependendo mais das garras das suas pernas, pôde, assim, liberar os braços e aprumar o corpo, tornando-se o homo erectus.
Descobre então a possibilidade de utilizar os braços e as mãos, quando cria o primeiro artefato (osso e/ou porrete) e a possibilidade de sua utilização para finalidade diversa, tornando-se o homo faber, aspecto que o dos demais animais; uma vez que não é da natureza desses a utilização de instrumentos para um fim determinado ou proposital.
Mais á frente descobre o fogo e sua utilidade diversa. Isso vem caracterizar ainda mais o sentido de cultura, como resultado da relação do homem com a natureza e suas forças, constituindo assim o homo habilis.
Nesse processo passa o homem a desenvolver a mente, o saber e o acúmulo de conhecimentos: já é então o homo sapiens.
Com o desenvolvimento desses conhecimentos, num breve instante da história de sua existência, o homem vai da descoberta da escrita até o advento da televisão, do avanço tecnológico e da informática, chegando em pouco tempo ao espaço sideral, tornando-se, enfim, o homo actualis.
Todo agrupamento humano sobrevive por causa de duas forças culturais essenciais: a coesão – que caracteriza o grupo nos seus limites físicos ou territoriais, constituindo-se em unidade de espaço; e a tradição – que mantém o grupo vivo e unido no curso de um período, que se constitui em unidade de tempo.
O processo histórico nos aponta três tipos de cultura : a cultura extinta – objeto de arqueologia; a cultura ágrafa ( que não tem escrita) – objeto de etnografia; a cultura recente – objeto da antropologia, que por sua vez é subdividida em três vertentes: cultura erudita, cultura popular e cultura de massa – sendo esta última a interseção da erudita com a popular.
Assim, do ponto de vista antropológico, a cultura é entendida como a capacidade do ser humano de criar o seu modo de vida, pela própria capacidade de expressar-se, principalmente pela linguagem, e de criar símbolos. É, então, um conjunto de práticas que devem ser transmitidas às sucessivas gerações, para garantir a reprodução de um estado de coexistência social.
Do ponto de vista sociológico, a cultura é vista como um processo histórico, no qual o ser humano cria a história e faz a cultura. Supõe uma consciência grupal, preocupada com o planejamento do futuro. Isso implica sonhos diferenciados, desencantos, conflitos, divisões de classe, insatisfações, mas também criação de alternativas na solução dos conflitos e outras soluções em conjunto.
Texto de Marlei Sigrist - UFMS