domingo, 2 de outubro de 2011

Vertentes da arte contemporânea - Video arte


Cena da obra " Cremaster 1", do Ciclo Cremaster, do videoartista  americano Matthew Barney


O vídeo e a televisão entram com muita força no trabalho artístico, freqüentemente associados a outras mídias e linguagens. Cada vez mais as obras articulam diferentes modalidades de arte como dança,música, pintura, teatro, escultura, literatura, desafiando as classificações habituais, questionando o caráter das representações artísticas e a própria definição de arte.


A introdução do vídeo nesse universo traz novos elementos para o debate sobre o fazer artístico.

Matthew Barney

O artista americano Matthew Barney é, sem dúvida, um dos maiores ícones da videoarte. Ele criou um ciclo de videos denominado " The Cremaster Cycle" ( Ciclo Cremaster). São cinco videos alternados, filamdos entre 1994 e 2002, apresentados por ordem de importância e não cronológica.

"Originalmente organizado pelo Museu Solomon R. Guggenheim de Nova York, o “Ciclo Cremaster” reúne desenhos, esculturas, fotos, objetos e a projeção de cinco filmes (na seqüência de sua filmografia, Cremaster 4, 1, 5, 2 e 3), onde performances de mágicos e fadas, travestis, reis, esportistas, corredores, estrelas, gângsteres e criaturas híbridas são apresentados através de um enredo que muitas vezes começa e termina no nada.

Chamam a atenção o requinte e os detalhes dos figurinos, a escolha e a adaptação das locações dos filmes, a maquiagem dos atores, suas performances atléticas e muitas vezes inimagináveis, a construção e a metamorfose de alguns corpos e objetos, entre outras surpresas que tanto os filmes quanto a exposição projetam. Não menos surpreendentes são os objetos construídos com sal, tapioca, mel, vaselina, geléia de petróleo, vinil e próteses plásticas que fazem parte do cenário dos filmes e que são apresentados na exposição.


Em seu âmago, o “Ciclo Cremaster” objetiva a construção de uma mitologia para o novo milênio, baseada na figura retórica do oxímoro, ou seja, na construção de idéias opostas que se fundem em uma unidade impossível, sem caminhar para a síntese. Assim, Barney elabora uma literatura fantástica, fundada na (des) construção de organismos-personagens-heróis polimórficos que habitam uma terra de ninguém -seus cenários ou sua cosmologia- em uma narrativa anti-racional, ou seja, que não se fecha.

Segundo a curadora Nancy Spector, as criaturas de Barney são inspiradas em sua experiência anterior como esportista e seguem a filosofia de que a forma só pode tomar uma configuração ou mutar quando resiste contra uma força oposta. Assim, um dos conceitos de seu trabalho é ultrapassar os limites do corpo através do treino físico, em uma pressão atlética e narcisística de poder, da realização daquilo que é impossível fisicamente. O corpo é, para o artista, tanto órgão de reprodução, quanto instrumento esculturável.

Matthew Barney, com máscara de um de seus personagens  do Ciclo Cremaster


Vertentes da arte contemporânea - Performance

Performance - trecho
Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais

“Forma de arte que combina elementos do teatro, das artes visuais e da música. Nesse sentido, a performance liga-se ao happening (os dois termos aparecem em diversas ocasiões como sinônimos), sendo que neste o espectador participa da cena proposta pelo artista, enquanto na performance, de modo geral, não há participação do público.”

Performance " Folíngua"

Performance do artista Otto Muehl

Vertentes da arte contemporânea - Body Arte

Body arte da artista australiana Emma Hack
Body arte

A body art, ou arte do corpo, designa uma vertente da arte contemporânea que toma o corpo como meio de expressão e/ou matéria para a realização dos trabalhos, associando-se freqüentemente a happening e performance. Não se trata de produzir novas representações sobre o corpo - encontráveis no decorrer de toda a história da arte -, mas de tomar o corpo do artista como suporte para realizar intervenções, de modo geral, associadas à violência, à dor e ao esforço físico.

Tatuagens, ferimentos, atos repetidos, deformações, escarificações, travestimentos são feitos ora em local privado (e divulgados por meio de filmes ou fotografias), ora em público, o que indica o caráter freqüentemente teatral da arte do corpo. Bruce Nauman (1941) exprime o espírito motivador dos trabalhos, quando afirma, em 1970: "Quero usar o meu corpo como material e manipulá-lo".




Emma Hack


Escolher um nome a dar à profissão da australiana Emma Hack é tarefa difícil. Ela auto-intitula-se artista corporal, designação que se aplica bastante bem atividade que desenvolve: pintar corpos humanos. Não apenas meras tatuagens mas visões de ilusão, criatividade, beleza e humor. Atualmente, a artista é mundialmente famosa e os seus trabalhos são requisitados por diversas empresas multinacionais para as suas campanhas publicitárias. E Emma diverte-se imenso com o que faz.

Entre os seus trabalhos contam-se calendários, desfiles de moda, anúncios e publicidade editorial ou espetáculos teatrais, com destaque para a caracterização dos artistas do famoso Cirque du Soleil, e muitas das pinturas que faz destinam-se também a trabalhos fotográficos. A mais recente criação de Emma Hack chama-se Oriental Delights e consiste numa combinação de corpos nus pintados sobre fundos de papel de parede com diversos motivos e animais à mistura.

Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2008/06/emma_hack_body.html#ixzz1ZdN7f5Sb

Bloco Final - Arte Contemporânea

Arte Contemporânea   
Definição
            Os balanços e estudos disponíveis sobre arte contemporânea tendem a fixar-se na década de 1960, sobretudo com o advento1 da arte pop e do minimalismo, um rompimento em relação à pauta moderna, o que é lido por alguns como o início do pós-modernismo. Impossível pensar a arte a partir de então em categorias como "pintura" ou "escultura". Mais difícil ainda pensá-la com base no valor visual, como quer o crítico norte-americano Clement Greenberg. A cena contemporânea - que se esboça num mercado internacionalizado das novas mídias e tecnologias e de variados atores sociais que aliam política e subjetividade2 (negros, mulheres, homossexuais etc.) - explode os enquadramentos sociais e artísticos do modernismo, abrindo-se a experiências culturais díspares3. As novas orientações artísticas, apesar de distintas, partilham um espírito comum: são, cada qual a seu modo, tentativas de dirigir a arte às coisas do mundo, à natureza, à realidade urbana e ao mundo da tecnologia. As obras articulam diferentes linguagens - dança, música, pintura, teatro, escultura, literatura etc. -, desafiando as classificações habituais, colocando em questão o caráter das representações artísticas e a própria definição de arte. Interpelam4 criticamente também o mercado e o sistema de validação da arte.
Tanto a arte pop quanto o minimalismo estabelecem um diálogo crítico com o expressionismo abstrato5 que as antecede por vias diversas. A arte pop - Andy Warhol, Roy Lichtenstein, Claes Oldenburg e outros - traduz uma atitude contrária ao hermetismo6 da arte moderna. A comunicação direta com o público por meio de signos e símbolos retirados da cultura de massa e do cotidiano - histórias em quadrinhos, publicidade, imagens televisivas e cinematográficas - constitui o objetivo primeiro de um movimento que recusa a separação arte e vida, na esteira da estética anti-arte dos dadaístas e surrealistas. Trata-se também da adoção de outro tipo de figuração, que se beneficia de imagens, comuns e descartáveis, veiculadas pelas mídias e novas tecnologias, bem como de figuras emblemáticas do mundo contemporâneo, a Marilyn Monroe de Andy Warhol, por exemplo. A figuração é retomada, com sentido inteiramente diverso, nos anos 1980 pela transvanguarda7, no interior do chamado neo-expressionismo internacional. O minimalismo de Donald Judd, Tony Smith, Carl Andre e Robert Morris, por sua vez, localiza os trabalhos de arte no terreno ambíguo entre pintura e escultura. Um vocabulário construído com base em idéias de despojamento8, simplicidade e neutralidade, manejado com o auxílio de materiais industriais, define o programa da minimal art. Uma expansão crítica dessa vertente encontra-se nas experiências do pós-minimalismo, em obras como as de Richard Serra e Eva Hesse. Parte da pesquisa de Serra, sobretudo suas obras públicas, toca diretamente às relações entre arte e ambiente, em consonância9 com uma tendência da arte contemporânea que se volta mais decididamente para o espaço - incorporando-o à obra e/ou transformando-o -, seja ele o espaço da galeria, o ambiente natural ou as áreas urbanas. Preocupações semelhantes, traduzidas em intervenções sobre a paisagem natural, podem ser observadas na land art de Walter De Maria e Robert Smithson. Outras orientações da arte ambiente se verificam nas obras de Richard Long e Christo.
Se os trabalhos de Eva Hesse não descartam a importância do espaço, colocam ênfase em materiais, de modo geral, não rígidos, alusivos à corporeidade e à sensualidade. O corpo sugerido em diversas obras de E. Hesse - Hang Up, 1966 - toma o primeiro plano no interior da chamada body art. É o próprio corpo do artista o meio de expressão em trabalhos associados freqüentemente a happenings10 e performances11. Nestes, a tônica recai, uma vez mais, sobre o rompimento das barreiras entre arte e não-arte, fundamental para a arte pop, e sobre a importância decisiva do espectador, central já para o minimalismo. A percepção do observador, pensada como experiência ou atividade que ajuda a produzir a realidade descoberta, é largamente explorada pelas instalações. Outro desdobramento direto do minimalismo é a arte conceitual, que, como indica o rótulo, coloca o foco sobre a concepção - ou conceito - do trabalho. Sol LeWitt em seus Parágrafos sobre Arte Conceitual (1967), esclarece: nessas obras, "a idéia torna-se uma máquina de fazer arte". É importante lembrar que o uso de novas tecnologias - vídeo, televisão, computador etc. - atravessa parte substantiva da produção contemporânea, trazendo novos elementos para o debate sobre o fazer artístico.
Os desafios enfrentados pela arte contemporânea podem ser aferidos na produção artística internacional. Em relação ao cenário brasileiro, as Bienais Internacionais de São Paulo ajudam a mapear as diversas soluções e propostas disponíveis nos últimos anos. Na década de 1980, a exposição Como Vai Você, Geração 80?, no Parque Lage, Rio de Janeiro, e a participação dos artistas do Ateliê da Lapa e Casa 7 na Bienal Internacional de São Paulo, em 1985, evidenciam as pesquisas visuais.
Retirado de: Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais – Arte Contemporânea
Vocabulário:
1.            Advento: chegada.
2.            Subjetividade: qualidade do que é subjetivo; que se passa exclusivamente no espírito.
3.            Díspares: diferentes.
4.            Interpelam: citam.
5.            Expressionismo abstrato: movimento artístico americano, originado no Pós guerra. Combina a intensidade emocional do expressionismo alemão com a estética antifigurativa.
6.            Hermetismo: difícil de compreender.
7.            Transvanguarda: movimento artístico italiano que retoma o classicismo, com temas como heróis, minotauro, ciclopes. Neste movimento, o artista é livre para transitar pelos movimentos anteriores.
8.            Despojar: desapossar.
9.            Consonância: concordância.
10.         Happening: ação artística planejada, improvisação que nunca se repete.
11.         Performance: ação artística que envolve artes visuais, cênicas e sonoras. Muito elaborada, não necessita de público para sua realização.

Arte Kadiwéu -Imagens



sábado, 1 de outubro de 2011

Bloco Intermediário - Arte Kadiwéu



Os Kadiwéu, conhecidos como "índios cavaleiros", por sua destreza na montaria, guardam em sua mitologia, na arte e em seus rituais o modo de ser de uma sociedade hierarquizada entre senhores e cativos. Guerreiros lutaram pelo Brasil na Guerra do Paraguai, razão pela qual, como contam, tiveram suas terras reconhecidas.

Também conhecidos como "índios cavaleiros", integrantes da única "horda" sobrevivente dos Mbayá, um ramo dos Guaicuru, guardam a lembrança de um glorioso passado.



As mulheres dedicavam-se à pintura corporal e facial, cuja especial disposição dos elementos geométricos Lévi-Strauss considerou como característica das sociedades hierárquicas. Desenhos que impressionam pela riqueza de suas formas e detalhes, a que temos fácil acesso através da vasta coleção recolhida por Darcy Ribeiro, reproduzida no livro que publicou sobre os Kadiwéu.


Os Kadiwéu pertencem à família lingüística Guaikurú, na qual se incluem outros povos do Chaco, que são os Toba (Paraguai e Argentina), os Emók, ou Toba-Mirí (Paraguai), os Mocoví (Argentina), os Abipón (extintos) e os Payaguá (extintos). Dentre estes grupos Guaikurú, os Kadiwéu são os mais setentrionais ( que habitam o lado norte) e o único localizado a leste do rio Paraguai, no Brasil. Alguns velhos, mulheres e sobretudo as crianças falam apenas o Kadiwéu. Um bom número dentre os Kadiwéu, contudo, se comunica com facilidade em português. Há, na língua Kadiwéu, muitas diferenças entre as falas masculina e feminina. . É interessante notar que os descendentes de Terena que vivem entre os Kadiwéu usam apenas o português para se comunicar na aldeia (não usam a língua Terena nem entre si). Entretanto, mesmo que não falem, entendem perfeitamente o Kadiwéu.


Arte



Os finos desenhos corporais realizados pelos Kadiwéu constituem-se em uma forma notável da expressão de sua arte. Hábeis desenhistas estampam rostos com desenhos minuciosos e simétricos, traçados com a tinta obtida da mistura de suco de jenipapo com pó de carvão, aplicada com uma fina lasca de madeira ou taquara. No passado, a pintura corporal marcava a diferença entre nobres, guerreiros e cativos.


As mulheres Kadiwéu produzem, igualmente, belas peças de cerâmica: vasos de diversos tamanho e formato, pratos também de diversos tamanhos e profundidade, animais, enfeites de parede, entre outras peças criativas. Decoram-nas com padrões que lhes são distintos, que segue a um repertório rico, mas fixo, de formas preenchidas com variadas cores. A matéria-prima de seu trabalho encontram-na em barreiros especiais, que contêm o barro da consistência e tonalidade ideais para a cerâmica durável. Os pigmentos para sua pintura são conseguidos de areias dos mais variados tons, alguns dos detalhes sendo envernizados com a resina do pau-santo.


Rituais


O indivíduo Kadiwéu recebe um nome por ocasião de seu nascimento e quando da morte de um parente. Durante os ritos funerários, os parentes do morto têm seus cabelos cortados. Aquele que corta o cabelo em sinal de luto é chamado okojege. As mulheres velhas, conhecedoras destes ritos, se reúnem durante o funeral para decidir o nome mais adequado para o enlutado. Quando se perde um parente próximo é também possível adotar alguma outra pessoa (independentemente da idade, do sexo e do grau ou mesmo da existência de parentesco) para preencher a falta do morto. Um parente adotado nestas circunstâncias é chamado godokogenigi. A este também se dá um novo nome e se lhe corta os cabelos.